Esportes
Rogério Ceni passa a impressão de que se tornará um grande técnico
Treinador tem futuro promissor mesmo se Flamengo não conquistar o Brasileiro
BATANEWS/AFOLHA
Os detalhes, mistura de talento individual e de acasos, decidiram a vitória do Flamengo sobre o Inter. Bruno Henrique, Gabigol e Arrascaeta foram determinantes. A expulsão duvidosa de Rodinei, que não teria acontecido se ele tivesse mais técnica e dominado melhor a bola, contribuiu bastante para o resultado. Se o Flamengo não tivesse vencido, Gustavo Henrique seria duramente criticado, por ter cometido um bizarro pênalti no gol do Inter.
Quando escrevo que os treinadores são supervalorizados nas vitórias e nas derrotas, não diminuo a importância deles. Os atletas só brilham quando atuam em times com bom conjunto. Já era assim no passado, como na Copa de 1970.
Ao dizer que Rogério Ceni, mesmo se for o campeão, continuará sendo um jovem técnico promissor, quero lembrar que alguns jovens treinadores também ganharam títulos importantes no início da carreira e, depois, perderam prestígio. Rogério Ceni, pelas condutas e entrevistas, passa a impressão que se tornará um grande treinador do futebol brasileiro, mesmo se na quinta (25) o Flamengo não for o campeão.
A possibilidade de Rogério Ceni, grande ídolo do São Paulo, ser campeão no Morumbi, contra seu ex-time, gera uma enorme expectativa e inúmeras possibilidades psicológicas, nele próprio e em todos os personagens do jogo, além dos torcedores. É uma das atrações das partidas.
Felicito, como fez Juca Kfouri, o jovem treinador português Abel Ferreira, pela indignação e críticas ao calendário brasileiro. A CBF, para se manter no poder, troca favores com os clubes e as federações, em vez de exercer sua principal função, a de melhorar a qualidade do espetáculo.
Por outro lado, Abel e os técnicos brasileiros não deveriam justificar as atuações ruins apenas pelo calendário ou pelos problemas físicos e emocionais. Os times brasileiros continuam viciados em antigas práticas medíocres, como excesso de chutões, de bolas cruzadas na área e de grandes espaços entre os setores, além das brigas, das ofensas e das confusões que existem durante as partidas. Os treinadores são também responsáveis por esse comportamento.
Precisamos jogar futebol de habilidade e de técnica, individual e coletiva. Parece que, no Brasil, os jovens são estimulados, nas categorias de base e nas escolinhas particulares, a desenvolver muito mais a habilidade do que a técnica.
Edenilson, do Inter, que coincidentemente nunca participou das categorias de base, se destaca pela técnica, não pela habilidade. Ele executa com precisão os fundamentos técnicos da posição, erra pouco e é extremamente regular, pois não depende da marcação dos adversários.
Além disso, tem muita força física. Já Everton Ribeiro, brilhante e mais habilidoso que técnico, embora possua também uma boa técnica, tem muito mais dificuldades quando é bem marcado, já que se destaca bastante pelos dribles e pelas jogadas de efeito.
Dias atrás, vi os Estados Unidos ganharem, mais uma vez, do Brasil no futebol feminino. As brasileiras jogaram bem, mas as americanas possuem melhor técnica, individual e coletiva. Driblam pouco, trocam muitos passes, raramente erram e fazem as escolhas certas. Dizem que, no 7 a 1, a Alemanha não deu um drible sequer. Certamente, os dribles foram pouquíssimos.
No Brasil, muitos ainda confundem habilidade com técnica. São duas maneiras de jogar e de ver o futebol. As duas são essenciais e se completam.