Esportes
Fla e Inter disputam título brasileiro com a marca da imprevisibilidade
Campeonato não tinha corrida aberta pelo troféu na última rodada desde 2011
BATANEWS/FOLHA/BRUNO RODRIGUES
O Campeonato Brasileiro de 2020 terá sua história contada por dois fatores, e um deles surge como consequência do outro.
A pandemia, que afetou atletas, comissões técnicas e tirou torcedores dos estádios, bagunçou o calendário de disputas e jogou o Nacional para este ano de 2021.
Como resultado de todo esse quadro de complicações logísticas e técnicas, a Covid-19 imprimiu à competição a marca da imprevisibilidade, da mesma forma que em outras ligas nacionais pelo mundo.
Nos dois jogos em que há possibilidade de título nesta quinta-feira (25), há três clubes que lideraram o campeonato e se colocaram, em algum momento, como favoritos à conquista.
Agora é a vez de o Flamengo, líder do Nacional e a uma rodada de faturar a taça, tentar confirmar seu favoritismo.
Os rubro-negros, que assumiram a ponta com a vitória sobre o Internacional no último domingo (21), visitam nesta quinta o São Paulo, às 21h30, no Morumbi. Com 71 pontos no topo da tabela, um triunfo garante o título aos cariocas.
O cenário, porém, não é dos mais simples. E é bastante diferente se comparado ao último Brasileiro que chegou à rodada final sem um campeão.
Em 2011, o então líder Corinthians enfrentou, no Pacaembu, um Palmeiras que terminou aquele campeonato apenas na 11ª posição. Mesmo com o empate em 0 a 0, conquistou o título, já que na outra partida o Vasco, que concorria com os corintianos, não saiu de um empate em 1 a 1 com o Flamengo.
No ano anterior, o Fluminense, líder na ocasião, também disputou a rodada final em casa, e diante de um Guarani já rebaixado. Vitória por 1 a 0, gol de Emerson Sheik, coroou a campanha dos tricolores.
O próprio Flamengo, em 2009, também decidiu o Brasileiro apenas no último jogo. Recebeu, com o Maracanã lotado, um Grêmio cheio de reservas (o Inter era o concorrente dos flamenguistas ao título), que não tinha pretensão alguma no campeonato e encerrou a disputa na oitava colocação.
A situação enfrentada hoje pelos rubro-negros é distinta. Seu adversário na noite desta quinta, o quarto colocado São Paulo, precisa também da vitória para garantir uma classificação direta à fase de grupos da Copa Libertadores.
O clube do Morumbi chegou a liderar o Nacional com sete pontos de vantagem para o segundo colocado, mas colapsou na reta final e demitiu seu técnico, Fernando Diniz. Na última segunda-feira (22), foi ao Rio de Janeiro enfrentar o lanterna e já rebaixado Botafogo, com a perspectiva de garantir um lugar nos grupos do torneio continental, mas os cariocas venceram por 1 a 0 e atrapalharam o objetivo são-paulino.
Além de valer muito para o São Paulo, o confronto é cercado por um forte componente emocional e histórico. Maior ídolo da história tricolor, Rogério Ceni, atual técnico do Flamengo, poderá erguer a taça de campeão nacional no lugar onde se acostumou a celebrar vitórias pela equipe paulista.
O treinador de 48 anos busca sua primeira conquista na elite do país –foi campeão da Série B, com o Fortaleza, em 2018.
É sob essa condição que ele e seus comandados buscarão um triunfo no Morumbi, onde o clube carioca não vence desde 2011. A última vez que o Flamengo ganhou no estádio, pelo Brasileiro daquele ano, Ceni ainda era goleiro do São Paulo.
Nesta temporada, os rubro-negros também buscam superar os tricolores pela primeira vez. No primeiro turno do Nacional, os são-paulinos golearam por 4 a 1. Ainda houve dois confrontos pela Copa do Brasil, com vitórias por 2 a 1 e 3 a 0. Todas com Rogério Ceni no comando.
'Eu vivi uma boa parte da minha história, a primeira parte do livro da minha vida foi escrita no Morumbi. É inegável essa relação. Depois, fui para o Castelão, no Fortaleza, e pude escrever a segunda parte, como treinador. E agora espero escrever no Maracanã. Seria um orgulho muito grande, uma vitória muito grande na minha trajetória como treinador, e um presente para o torcedor flamenguista por tudo que passou este ano', afirmou o treinador, sobre a possibilidade do título brasileiro.
De olho no que acontecerá na capital paulista, o Internacional recebe na noite desta quinta-feira o décimo colocado Corinthians, também às 21h30, no Beira-Rio. Com 69 pontos na segunda colocação, os gaúchos precisam vencer e ainda dependem de um tropeço do Flamengo.
Vitória do Inter e empate no Morumbi dá o título aos colorados, que igualariam a equipe de Ceni no número de triunfos (21) e assumiriam a ponta pela vantagem no saldo de gols (26 a 21).
O Inter, que arrancou bem no início da competição e era líder quando Eduardo Coudet se despediu para assumir o Celta, da Espanha, teve em Abel Braga uma campanha de recuperação depois do início ruim do treinador de 68 anos.
Após a eliminação na Libertadores, porém, uma sequência de nove vitórias seguidas recolocou os gaúchos na liderança, perdida na rodada anterior, quando foi ultrapassada pelo Flamengo na derrota por 2 a 1 para os rubro-negros, no Maracanã.
Houve muita reclamação por parte do Inter pela expulsão de Rodinei, definida após o árbitro Raphael Claus se dirigir ao monitor, chamado pelo VAR, para rever o lance. O capitão colorado, Rodrigo Dourado, criticou a atuação de Claus logo após a partida e sugeriu que a CBF tem preferência por um título flamenguista.
'É triste falar. Não sei se é a CBF. Querem que eles sejam campeões. A gente podia ser campeão e eles nem trouxeram o troféu. Acho que eles querem que o Flamengo ganhe', disse Dourado.
Apesar da frustração com a perda da liderança e as reclamações, o Internacional tenta se concentrar para esta quinta. Atento ao que ocorre em São Paulo, mas ciente de que deve fazer a sua parte.
'Nossa obrigação é ganhar do Corinthians primeiro. Temos que ganhar. O que acontecer do outro lado, vamos ficar sabendo depois, no final do jogo, e está tudo certo', afirmou o meia Praxedes.