Esportes
Temporada 2020 bate recorde de técnicos estrangeiros, mas validade ainda é curta
Dos nove treinadores gringos que passaram pelo país, apenas um deles segue no cargo
BATANEWS/FOLHA/BRUNO RODRIGUES
O espanhol Miguel Ángel Ramírez foi anunciado como novo técnico do Internacional na última terça-feira (3). O argentino Hernán Crespo comandou apenas dois jogos pelo São Paulo até aqui e seu compatriota Ariel Holan ainda estreará pelo Santos.
Os três fazem companhia no grupo de estrangeiros ao português Abel Ferreira, do Palmeiras, que chegou no futebol brasileiro em novembro do ano passado.
Assim como no início da temporada 2020, quando também havia quatro treinadores do exterior em clubes da Série A, o mercado para os professores de fora está aquecido como nunca esteve em todo o século.
Só na temporada passada, nove comandantes de outras nacionalidades trabalharam em clubes da primeira divisão. É um recorde desde 2001. Nesses vinte anos, os maiores registros pertenciam a 2015 e 2016, quando três agremiações tiveram profissionais estrangeiros treinando suas equipes.
Valorizados especialmente depois do sucesso de Jorge Jesus no Flamengo e do vice-campeonato brasileiro de Jorge Sampaoli com o Santos, os forasteiros, porém, já entram no fluxo de alta rotavidade que é marca do futebol nacional.
Dos técnicos que começaram 2020 no comando, nenhum deles seguiu no cargo até o final da temporada.
O português Jorge Jesus se despediu em julho do Flamengo, durante a paralisação do futebol em razão da pandemia, para retornar ao Benfica (POR). Jesualdo Ferreira, também lusitano, não resistiu à eliminação no Campeonato Paulista e foi demitido do Santos em agosto.
Dudamel, venezuelano, ficou somente dois meses no Atlético-MG e teve seu vínculo rescindido em fevereiro. O argentino Eduardo Coudet levou o Internacional à liderança do Campeonato Brasileiro, mas aceitou proposta do Celta, da Espanha, e partiu para o futebol europeu em novembro.
Durante a temporada, chegaram outros cinco treinadores estrangeiros: o catalão Domènec Torrent, no Flamengo; o português Ricardo Sá Pinto, no Vasco; o argentino Ramón Díaz, no Botafogo; o também argentino Jorge Sampaoli, no Atlético-MG; e o português Abel Ferreira, no Palmeiras.
Apenas Sampaoli e Abel terminaram o calendário 2020 do futebol em seus respectivos cargos, mas o argentino já deixou o comando do Atlético-MG para assumir o Olympique de Marseille (FRA).
Neste século, a média histórica de permanência dos técnicos forasteiros no Brasil é de aproximadamente cinco meses e meio.
Apenas três conseguiram superar essa marca na temporada anterior. Jesus fez um trabalho longevo para os padrões brasileiros, de 11 meses. Sampaoli comandou o Atlético-MG em 9, e Coudet o Inter, em 8 –o levantamento desconsidera os três meses de paralisação do futebol brasileiro no início da pandemia, quando esses profissionais e suas equipes não foram a campo.
Todos os outros ficaram abaixo da média estabelecida nessas duas décadas do século 21.
O caso mais pitoresco foi o de Ramón Díaz no Botafogo. O argentino foi anunciado no início de novembro do ano passado, mas no dia seguinte à apresentação, precisou viajar para o Paraguai, onde faria uma cirurgia para retirar um tumor benigno na tireoide. Enquanto esteve fora, seu filho, Emiliano Díaz, comandou a equipe. Foram três derrotas em três partidas.
Com alta prevista inicialmente para a última semana de novembro, Ramón Díaz só foi liberado para o retorno aos trabalhos na primeira semana de dezembro. O Botafogo, porém, já estava na zona de rebaixamento do Campeonato Brasileiro e decidiu que não poderia esperar, optando pela demissão do treinador, que não chegou a estrear.
Para o lugar do argentino, que ficou menos de um mês no clube, contrataram Eduardo Barroca, e o Botafogo terminou o Nacional na lanterna, rebaixado para a Série B.
Entre os estrangeiros, Abel Ferreira é o único que já conhece minimamente onde está pisando. Em pouco mais de quatro meses no Palmeiras, foi campeão da Libertadores, ainda pode conquistar a Copa do Brasil e já aproveitou até para reclamar do calendário do futebol brasileiro.
Miguel Ángel Ramírez, contratado pelo Internacional, era a primeira escolha dos alviverdes quando demitiram Vanderlei Luxemburgo. Mas o espanhol informou à diretoria palmeirense que gostaria de encerrar a temporada no Indepediente Del Valle (EQU) e assumir a equipe apenas em 2021. Pediu o que o Palmeiras não topou lhe dar: tempo.
É o que todos querem, mas só os resultados darão fôlego para que implementem seus trabalhos. Ramírez, Crespo e Holan, e até mesmo Abel, buscam triunfar em um futebol impiedoso com a sequência dos técnicos. Inclusive os estrangeiros, que apesar das portas abertas e do carimbo no passaporte, já são parte importante na dança das cadeiras.