Governo de SP estuda parar futebol e contraria Federação Paulista

Ministério Público recomendou suspensão de todo o esporte no estado

BATANEWS/FOLHA/JOãO GABRIEL


Foto: Divulgação

Uma reunião na noite desta terça-feira (9) com integrantes do governo de São Paulo deve selar a suspensão do futebol em todo o estado. A Federação Paulista de Futebol (FPF), no entanto, se posicionou de forma contrária à paralisação.

Também nesta terça, o procurador-geral de Justiça de São Paulo, Mario Sarrubbo, recomendou ao governador João Doria (PSDB) a suspensão das atividades esportivas, em razão do momento da pandemia.

O documento, que será publicado no Diário Oficial do estado, pede que, diante da situação e por motivos de prevenção da saúde pública, ocorra a paralisação 'de eventos esportivos de qualquer espécie, inclusive partidas de futebol durante a fase vermelha do Plano São Paulo'.

Contrariada com a possibilidade de ter sua competição interrompida, a Federação Paulista de Futebol publicou nota que valoriza seus protocolos sanitários de prevenção à Covid-19.

'Não há qualquer argumento científico que sustente a tese de que o futebol profissional gere aumento no número de casos. Pelo contrário, o futebol possui um protocolo extremamente rigoroso, com acompanhamento médico diário e testagem em massa de seus profissionais. Uma eventual paralisação seria ainda mais prejudicial ao combate à Covid-19, pois deixaria expostos milhares de atletas, que não mais passariam a ter o controle médico diário e de testagem que o futebol oferece', afirmou a Federação, em nota.

A FPF recorreu ao deputado estadual Delegado Olim (PP), que também é presidente do Tribunal de Justiça Desportiva, para tentar convencer o governador a desistir da ideia de suspensão do torneio.

“Falei com o Mario Sarrubbo e com o Marco Vinholi [secretário de Desenvolvimento Regional] e ficamos de fazer uma reunião amanhã [quarta] com a federação, mas depois soube que tem uma decisão tomada pelo Doria. Difícil, não dá para entender se houver paralisação, porque o protocolo para o futebol é muito rigoroso', diz Olim.

A rádio CBN afirma que nesta quarta-feira (10) Doria anunciará a suspensão do Estadual. Questionada pela Folha, a Secretaria de Saúde nem negou nem confirmou a informação.

Nos bastidores, a Federação Paulista diz já estar preparada para uma possível suspensão. No entanto, reclama que não foi incluída no debate.

Já os clubes também reclamam por não estarem cientes da movimentação do governo e têm ligado à federação para pedir esclarecimentos.

Atualmente, o estado abriga a disputa do Campeonato Paulista. Também há times de São Paulo na Copa do Brasil, como o Mirassol, que no próximo dia 16 tem compromisso marcado para receber o Red Bull Bragantino, e o Marília, que no dia 18 enfrenta o Criciúma, em casa.

Times como o Corinthians e a Ponte Preta também disputam o torneio nacional, mas têm jogos agendados para fora do estado.

Essa seria a segunda suspensão do futebol em São Paulo. A primeira aconteceu no dia 16 de março de 2020 e durou até o final de julho.

O estado de São Paulo registrou 121 mortes e 4.224 novos casos da Covid-19 em 24 horas nesta segunda-feira (8). A média móvel nacional de óbitos segue batendo recordes no Brasil.

O estado de São Paulo está na fase vermelha da quarentena, a mais rígida, desde o sábado (6), na qual só estão autorizados a funcionar os serviços essenciais. No entanto, o governo defendeu, na época do anúncio, que não era necessário suspender os campeonatos, que têm protocolos sanitários específicos aprovados.

“Vamos seguir o mesmo modelo que vem sendo seguido na Europa, onde vários países instituíram lockdown e mantiveram o futebol e esporte sem plateia'', disse então José Medina, do Centro de Contingência paulista contra o coronavírus. “Esse tipo de atividade é controlada, até porque a população precisa de algum tipo de diversão, de entretenimento.'

A manutenção do futebol encontra respaldo no comando do futebol paulista e nacional.

À Folha, Andrés Rueda, presidente do Santos, foi um dos poucos dirigentes do futebol brasileiro a defender medidas mais duras para o esporte.

'Com dor no coração, a situação está nos assustando muito, estamos perdendo a sensibilidade, falamos de vidas que não têm sentido de serem perdidas. Qualquer medida para salvar uma vida vale', questionado pela reportagem se defendia ou não a manutenção das competições na semana passada.

'É uma opinião pessoal muito minha', prosseguiu o mandatário. 'O Santos cumpre os protocolos, mas praticamente o elenco inteiro já pegou. Seria mais prudente, embora doa na carne, entrarmos em um período de paralisação. Suspender o campeonato mesmo, embora as entidades tenham tomado um cuidado excelente.'