Paralisação do Paulista aumenta prejuízo de clubes das séries A2 e A3

Dirigentes reclamam da dificuldade em manter o futebol desde o início da pandemia

BATANEWS/FOLHA/ALEX SABINO


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A paralisação do futebol em São Paulo, determinada pelo governador João Doria (PSDB), tornou ainda mais difícil a situação dos 32 clubes que disputam as séries A2 e A3 do estadual. Estas são, respectivamente, a segunda e terceira divisão.

O maior temor dos dirigentes é que a suspensão seja prorrogada e vá além dos 15 dias estipulados. Os jogos estariam proibidos a partir da próxima segunda (15) até o dia 30.

'A gente precisa parar de achar que o futebol é romântico. A realidade do futebol é a nossa, não a da elite. É a de jogadores que ganham, em média, R$ 1,5 mil. Como nós vamos pagar esses dias sem atividade?', questiona Antonio Carlos de Abreu Ribeiro, presidente da Portuguesa Santista, time da A2.

Desde o início da pandemia da Covid-19, em março de 2020, as equipes não contam com renda de bilheterias porque as partidas acontecem sem público. Mas há patrocinadores à espera de uma visibilidade. Se não existem jogos não há porque pagar ou manter o acordo.

Há repasses de verba da FPF (Federação Paulista de Futebol) e, no caso da A2, televisionamento. Cada clube recebe da TV de acordo com uma fórmula que leva em conta tempo na divisão, média de público (no passado) e potencial de audiência. O valor varia entre R$ 400 mil e R$ 2 milhões, pagos em quatro parcelas.

Se o futebol não voltar, a tendência é que aconteça o mesmo de 2020, quando o Grupo Globo, comprador dos direitos, alegou não ter como depositar o dinheiro, já que os jogos não aconteciam.

O vice-presidente do Marília, Alysson Alex, que disputa a série A3 do Paulista, teme um aumento dos custos inviável nos gastos com o futebol ou perda de receita em caso de suspensão dos jogos e consequente perda de patrocinadores.

Na reunião da próxima segunda-feira (15), o presidente da FPF, Reinaldo Carneiro Bastos, vai pressionar João Doria para tentar reverter a paralisação ou pelo menos obter um cronograma definitivo e garantia de que a suspensão não vai passar dos 15 dias. Deverá colocar na mesa a possibilidade de disputar partidas em outros estados.

Algo que pode ser viável para times da A1. Para os demais, é impossível.

Na terceira divisão a situação é pior do que na segunda porque não há verba de TV. Os clubes contam com a ajuda da FPF, que paga cerca de R$ 230 mil para cada time, divididos em cinco parcelas. Mas quase nenhum deles recebe esse valor. Uma parte está penhorada por causa de ações trabalhistas.

'Depois de passar por tudo o que passamos no ano passado, fica cada vez mais complicado. Para o Barretos, a venda das placas no estádio é uma verba fundamental. Em 2020, conseguimos negociar todas. Neste ano, só 50%. Como você vende no meio de uma pandemia? E ainda tem os custos dos testes de Covid-19', lembra o presidente Julio Eduardo Addad Samara, que tem a equipe na A3.

Pelo protocolo da FPF, os clubes têm de testar a cada semana todos os jogadores, comissão técnica e funcionários que estarão envolvidos na partida. Samara afirma gastar R$ 20 mil por mês com os testes, o que representa um acréscimo de 45% nos custos para manter o futebol profissional.

'É mais ou menos esse valor para todo mundo. São R$ 20 mil por mês com os testes e nossa folha com o elenco é R$ 80 mil. Daí você percebe o problema. E se parar o campeonato, os repasses [de TV e FPF] atrasam', completa Roberto da Padaria, gestor do futebol do São José, da A2.

O Marília estima o gasto em R$ 14 mil a cada 30 dias. Mas há quem garanta gastar bem mais do que isso.

'Os testes são caríssimos. São R$ 12 a R$ 13 mil por semana', reclama José Eduardo Rodrigues, presidente do Rio Preto, na A3.

Ele fala em entrar na Justiça para pedir que o governo paulista devolva para os clubes a arrecadação perdida com a paralisação e com os gastos feitos até agora, especialmente se a suspensão for além dos 15 dias prometidos. Alega que se fosse para interromper o torneio após três rodadas, o melhor era não ter começado.

'Essa decisão do governo só acrescenta prejuízos aos clubes e o governador se mostra contraditório. Ele diz ser um defensor da ciência. No caso do futebol, o protocolo [sanitário] é rígido. Ele paralisou em caráter emergencial, mas só 72 horas depois do anúncio. É a mesma coisa de eu dizer que vou te dar um tiro, mas só daqui a três dias. Se é emergencial, é para agora. Quem paga a conta dessa patacoada? Temos contrato com os atletas. Quem paga a conta?', questiona Rodrigues.