Geral
Clubes acertam ao rejeitar ida à Justiça pelo Paulista
Continuamos a fracassar e viver em um mundo de faz-de-conta
BATANEWS/FOLHA
Foi um erro cogitar ir à Justiça para manter os jogos do Paulista. A decisão certa foi rejeitar a ideia.
A prioridade é a vida. Daí a importância do relato do prefeito de Araraquara, Edinho Silva. A cidade paulista com menor letalidade por Covid em 2020 aumentou drasticamente a média móvel em janeiro deste ano.
No dia 5 de fevereiro, a prefeitura decretou o retorno à fase vermelha. Não adiantou. “Mandamos nossos dados para a Universidade de São Paulo, detectaram a nova cepa e avisaram que zona vermelha não ia adiantar', conta o prefeito.
Decretou lockdown. Fechou o transporte público e até supermercados, autorizados apenas a fazer entregas. A Ferroviária foi treinar em Atibaia, mas o prefeito entendeu que o futebol não aumentaria os casos e permitiu uma partida: Ferroviária 5 a 0 no Botafogo-SP.
Esqueça o que Edinho Silva diz sobre o futebol. Não vai ter jogo, não está mais em questão. Pense só no relato de que a zona vermelha fracassou.
O problema é que, nesse ponto, seguimos fracassando. O prefeito de São Paulo, Bruno Covas, informou a primeira morte por falta de leitos na capital. Admitiu o colapso da saúde, mas disse que a prefeitura não pode decretar o lockdown, como Araraquara, porque não tem como fiscalizar.
Continuamos brincando de faz-de-conta. Eu não acredito no presidente da República, nem no governador, nem no prefeito que foi ao Maracanã, um dia depois de fechar a cidade que governa.
O Campeonato Paulista está paralisado, a Copa do Brasil e a Libertadores, não. O prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, entende que o futebol pode prosseguir e permitiu São Bento e Palmeiras no estádio Independência.
Dois dias depois, o governador de Minas Gerais proibiu São Bento x Palmeiras e Marília x Criciúma. Só que o Marília já tinha viajado 560 km para Varginha (MG). A CBF deveria cancelar a partida, mas a transferiu para Cariacica. Mais 780 km de ônibus.
O governador Romeu Zema não deixou o Marília jogar, mas permitiu ao Vasco enfrentar a Caldense, em Poços de Caldas, também no sul de Minas.
As decisões contraditórias foram motivadas pela saúde, pela política ou pelos dois?
A prioridade é a vida. Para tudo! De acordo.
Dizemos que o futebol é egoísta.
Não é que não seja, mas não é só ele. Sem chance de jogar em Minas e São Paulo, a Superliga de vôlei pode ser decidida em Saquarema, no Rio de Janeiro. Também no Rio, os donos de bares e restaurantes foram à Justiça e conseguiram uma liminar para fechar às 20h, no dia em que o prefeito Eduardo Paes decretou fechamento às 17h.
A prefeitura ganhou a guerra, mas o decreto valia por sete dias e, seis dias depois, houve permissão para abertura até 21h. A justificativa era desafogar o transporte coletivo.
Na sexta-feira, dia de happy hour para os cariocas?
O futebol tem de fazer sua parte. Não haverá jogos neste final de semana. Foi um erro cogitar uma liminar.
O procurador-geral de Justiça de São Paulo, Mario Sarrubbo, disse ao presidente da Federação Paulista que o Brasil é diferente da Inglaterra, onde o futebol seguiu no lockdown, declarado quando havia 1.300 mortes por dia, num país de 63 milhões de habitantes.
Sarrubbo afirmou que a diferença brasileira é que, aqui, as pessoas se aglomeram em casa para ver futebol. Então, tem de cancelar o Big Brother.
Deus abençoe o governador, para que o número de casos e mortes diminua rapidamente.
Isso não exclui que se confie mais no primeiro-ministro de Portugal, do que em Bruno Covas, João Doria e Jair Bolsonaro.