Kombi que já pegou fogo é xodó e ateliê de Kassandra, que ama viajar

As viagens pararam pela pandemia, mas o amor continua por Kombi que já até pegou fogo

BATANEWS/LETíCIA ÁVILA / CAMPO GRANDE NEWS


A Kombinando é o xodó de Kassandra. (Foto: Arquivo Pessoal)

Kassandra cresceu vendo seu pai, mecânico e amante de carros antigos, consertar e trocar todo o tipo de carro possível. O fascínio do pai passou para a filha, que começou a frequentar eventos de autos antigos e logo comprou sua paixão, a Kombi com a qual ela viajava para todos os cantos do país. Se a pandemia dificultou para as viagens acontecerem, a professora de educação física Kassandra Creto Fernandes espera por tempos melhores para poder voltar a vender seus artesanatos e viajar pelo país.

“Meu pai sempre foi um paizão; me levava para rios, passeios e fazendas a bordo das máquinas maravilhosas sobre quatro rodas'. Pelo amor dele, Kassandra aprendeu a amar também os eventos de carros antigos, e saía de Rio Brilhante para todos os estados pelos eventos. “Fotografava os carros e levava as fotos pra ele, nossa, ele ficava até emocionado'.

Um dia, em um evento aberto ao público, Kassandra teve a ideia de levar seu pai em um de seus muitos carros. “Meu pai tinha muitos carros antigos, mas não restaurava. O que ele mais usava era um Impala'. Pois foi justamente esse o carro que, com os amigos, Kassandra resolveu reformar para levá-lo ao evento.

“O carro estragou três vezes no caminho, mas veio', lembra.

Professora de educação física, Kassandra não tinha muitos amigos com o mesmo gosto pelos carros antigos e começou a ir aos eventos acompanhada de seu irmão. “O mundo automobilístico ainda é muito reservado ao homem, devido à sociedade não ter evoluído tanto no quesito machismo'.

Ela então embarcou na história, indo de carona acompanhando os eventos mesmo sem ser dona de um carro antigo. “Sempre quis comprar uma Kombi, mas minha família não era a favor'. Kassandra foi até o Paraná atrás de um anúncio de kombi, mas quando chegou lá, infelizmente era um golpe. “A minha sorte era que eu estava com meu irmão'.

Um dia, dois irmãos pedreiros estavam vendendo uma Kombi que estava parada há muito tempo. “Comprei a tal da Kombi. Já está comigo há cinco anos'.

Engana-se quem pensa que o companheirismo de Kassandra e da Kombinando, como ela chama, seria 100%. A Kombi estragava tanto que dava até um “ar misterioso', pois nunca era vista. “Ela ficava mais nas oficinas do que comigo mesma, tinha problema mecânico, elétrico, de tudo quanto é coisa', lembra.

A professora então acompanhava os eventos dos autos antigos pelo país não mais de carona, mas com a Kombi, do ano de 1975 e última edição de fabricação do modelo corujinha, com os dois parabrisas dianteiros.

Em 2019, além de viajar para acompanhar os eventos, ela criou a Kombinando Komigo, sua loja na Kombi, onde começou a vender artesanatos, camisetas, objetos decorativos e lembranças pela estrada. “Como artesã, eu confeccionei artes, tiaras, estojos, almofadas e outros materiais para vender nas viagens. Coloquei cortinas, arrumei todo o interior com estantes de caixotes e decorei'.

Pelo menos, ela tentava acompanhar as viagens. “A Kombi já fundiu o motor chegando no evento, já foi puxada de corda… Já me ofereceram motor emprestado para poder voltar, já ficou na cidade, estragou no meio do caminho...'.

Apesar das dificuldades, a Kombi segue sendo o xodó e o orgulho de Kassandra. “Perrengue a gente vive demais, mas não abre mão de ter o carro. Não é pelo carro, mas pela atmosfera que ele nos proporciona'.

Ela até mesmo pegou fogo.

“Foi um susto muito grande pra mim. Em agosto de 2019, ela começou a pegar fogo comigo dentro'. Sensação de impotência: foi como Kassandra descreveu. Com a Kombi lotada de mercadoria e o tanque cheio de gasolina, a professora ficou presa pelo cinto. Quando conseguiu sair, o extintor de incêndio não funcionou.

“No dia seguinte, ela estava toda acabada. Porém, foi um milagre. Não tinha uma peça queimada das mercadorias, estava tudo intacto'. A parte elétrica e o motor foram severamente danificados, mas com muita parceria, os amigos de Kassandra logo foram ajudar.

“Fizeram uma vaquinha e logo eu tinha dinheiro pra refazer tudo o que precisava. Deus foi muito poderoso em minha vida, meus amigos e família me ajudaram muito, e logo parti pra estrada'.

Como vendedora na Kombi, Kassandra se inspirou em outras pessoas que também vendiam nos eventos. Como artesã, ela resolveu produzir suas próprias peças e trazer outras novidades para a venda. “Eu vi que tinha Kombi vendendo várias coisas, mas ninguém com a minha ideia. Eu queria muito entrar pra esse mundo, sou apaixonada'. Porém, com a pandemia, os eventos foram cancelados e ela teve que ficar em casa.

Sem garagem para a Kombi e segurança para armazenar os produtos, Kassandra resolveu fazer da própria casa, sua própria loja. “Comecei a vender on-line. Como algumas pessoas tinham necessidade de ver fisicamente os produtos, também abri a loja física. Sempre com proteção, usando álcool em gel e máscara. Além de sobreviver trabalhando, temos que nos cuidar', ressalta.

Hoje, ela vende seus próprios produtos, feitos à mão, como almofadas, jogos de cortinas para Kombi, camisetas com apliques e detalhes artesanais e todo tipo de lembrança que os amantes dos carros, e principalmente das Kombis, também vão gostar.

Quem quiser saber mais sobre o trabalho da Kombinando Komigo, pode acessar seu Instagram.

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