Fogo no Pantanal começou por ação humana em fazendas, diz estudo do MP

Em incêndio recorde, cerca de 30% do bioma foi consumido nos estado de MS e MT, em período proibitivo

BATANEWS/TAINá JARA / CAMPO GRANDE NEWS


Brigadas combatem incêndio no Pantanal, na região de Aquidauana (Foto: Divulgação-Previfogo)

A maior parte dos incêndios registrados no Pantanal, em 2020, tiveram início possivelmente por ações antrópicas em fazendas, conforme aponta levantamento de pontos e causas de ignição realizado pelos Ministério Públicos de Mato Grosso e de Mato Grosso do Sul. Além disto, as ocorrências de fogo se concentraram no período proibitivo, portanto, quando não estavam autorizadas queimas controladas em propriedades rurais.

No ano passado, houve número recorde de área do bioma consumida pelo fogo. Foram 30% de uma área de 4,5 milhões de hectares. Na

Levantamento técnico, para nortear as ações dos órgãos, foi apresentado, nesta segunda-feira, em live organizada para debater estratégias para 2021.

Do total de áreas consumidas pelo fogo, 2 milhões de hectares estavam no Mato Grosso do Sul, abrangendo nove municípios, 722 propriedades inscritas no CAR (Cadastro Ambiental Rural), 11 unidades de conservação e três terras indígenas.

No Estado vizinho, área de 2,5 milhões foi consumida pelo fogo, em 12 municípios, atingindo 1336 propriedades inscritas no CAR, cinco unidades de conservação e três terras indígenas.

Por estudo de georreferenciamento, foi possível detectar 286 pontos de ignição, ou seja, locais onde começaram o fogo. Conforme o levantamento, 57,77% iniciaram possivelmente por ações antrópicas, 21,84% em margem de rios, 16,9% em estradas particulares, 2,43% em rede elétrica e 0,97% em estradas públicas.

A maior parte dos focos, 69,75%, começou em áreas vegetação rasteira e pastagem, comuns em propriedades rurais. Outros 30,25%, em áreas de vegetação nativa.

De acordo com o promotor do Núcleo Ambiental do MPMS, Luis Furtado Loubet, o estudo traz caracterização mais nítida sobre o incêndio recorde registrado no Pantanal, mas não é capaz de apontar responsáveis.

“É praticamente impossível, somente com as imagens da satélite, identificar a causa real da ignição desses incêndios. Não é como uma câmera q ficará filmando 24h. Sabemos que o incêndio começou, os pontos, mas não tem ali como constatar efetivamente se foi uma pessoa que riscou um fósforo, alguém que foi por fogo propositalmente, se é um carro que passou e jogou um cigarro e pegou fogo naquela área', exemplificou.

O promotor lembrou, no entanto, que em todos estes pontos de ignição foram excluídas questões meteorológicas para a causa dos incêndios, como raios, visto que era período de estiagem severa

Sete vezes mais – Apesar de ter maior parte da área do Pantanal consumida pelo fogo, Mato Grosso do Sul registrou sete vezes mais pontos de início de incêndio que Mato Grosso. A maioria das ocorrências foi verificada em propriedades rurais, portanto, foram de terras indígenas e unidades de conservação.

Dos 286 pontos de ignição, 206 ocorreram fora de terras indígenas. É preciso considerar ainda que vários pontos foram verificados em uma mesma propriedade.

MS - 239 pontos: - 120 focos em 90 propriedades rurais; - 1 em unidade de conservação ( Parque Estadual do Pantanal do Rio Negro); - 78 em terras indígenas (Terra Indígena Kadiwéu); - 40 em áreas não identificadas; MT - 47 pontos: - 32 pontos em propriedades rurais (31 propriedades rurais); - 2 pontos em terra indígena (Terra Indígena Teresa Cristina);  - 13 pontos em áreas não identificadas.