Saúde
5 mil mortes pela Covid em MS, 5 mil legados que perduram
No dia em que Mato Grosso do Sul atinge uma triste marca, o G1 MS conversou com duas famílias que contaram sobre os legados de entes que morreram por Covid-19.
BATANEWS POR JOSé CâMARA, G1 MS
Nesta quarta-feira (14), Mato Grosso do Sul ultrapassou a triste marca de 5 mil mortes por Covid-19. De um lado, histórias de muitos sul-mato-grossenses foram interrompidas e, de um outro ponto de vista, vários legados, de acordo com os familiares, se perduram.
O apóstolo Edilson Vicente da Silva morreu no dia 19 de agosto de 2020, desde então, os quatro filhos, nove netos e a esposa dele seguem convivendo com o luto e as lembranças. A filha de Edilson, Fernanda Gutierrez, disse que mesmo com a perda, o pai, deixou à ela, "o exemplo verdadeiro de como se viver".
Greice Meza, dona de casa e neta de João Ribeiro Novaes e da Francisca Araújo Novaes, perdeu os avós em um intervalo curto, ambos pela Covid-19. João morreu no dia 8 de agosto de 2020, no mesmo dia, Francisca foi intubada e, no dia 9 de agosto de 2020, não resistiu e veio à óbito.
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A dor das perdas repentinas ainda perduram no coração de Greice, como ela define. "Não tem um final de semana que nós não pensamos neles. Os domingos e sábados que tomávamos nosso café da manhã juntos, não são mais os mesmo", com a voz embargada, disse Greice.
Amor, orgulho, verdade, exemplo e outras características que Greice e Fernanda compartilham ao falarem sobre o legado que os familiares deixaram para elas.
Para Fernanda que compartilha da mesma religião que o pai, diz que muito do que Edilson foi, ela consegue enxergar no dia a dia dela. "Eu vejo muita coisa na minha vida que eu nem sabia era tão forte dentro de mim por causa dele", disse a pastora.
"Me ensinou que amar a Deus acima de todas as coisas era o melhor que poderíamos fazer. Ele me ensinou a amar o próximo, cuidar das pessoas, preferir a família à qualquer outra coisa, obedecer e ser verdadeiro" , lembrou Fernanda.
Greice lembra que "ombro amigo, cafezinho e pão com ovo" não era negado à ninguém na casa dos avós e, atualmente, o que perdura na vida dela e dos três filhos é o amor à família ensinado por João e Francisca.
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"Na vida o que eu mais lembro deles é o amor, ser família e ajudar o próximo, principalmente os seus. Se você não consegue ajudar a sua família, como ajudará quem está lá fora? Eu quero passar este amor aos meus filhos", chorando, Greice contou ao G1.
"Meus avós sempre contavam histórias, eu passei a querer ouvir aquelas histórias que eles contavam, que antes eu não tinha paciência de ouvir. Eu sinto muita falta de ouvir. Hoje eu valorizo cada minuto, cada instante. Eu queria um instante a mais para escutar uma história ou um conselho", lembrou Greice.
A pastora Fernanda traduz o legado do pai, Edilson, como "riqueza". "Apesar da dor e da falta, eu consigo sentir essa alegria do privilégio de ter nascido filha dele. Parece que só depois da morte a gente enxerga a grandeza que alguém fez, eu sempre valorizei meu pai imensamente, mas hoje é tão maior, é mais profundo".
Nas histórias contadas por Fernanda e Greice um ponto em comum é visto nos legados que perduram dos familiares que morreram por Covid-19: a família. Para Greice, os avós eram como pais e, para Fernanda, Edilson "investiu muito tempo para família".
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