'Milagre', Marina nasceu de 24 semanas depois que mãe teve covid

Marina ainda enganou os pais em ultrassom e só se revelou menina quando já estava querendo nascer

BATANEWS/CAMPO GRANDE NEWS


De lacinbho e bochechinhas que dão vontade de apertar, Marina já está com 1,8 kg. (Foto: Arquivo Pessoal)

Milagre virou segundo nome de Marina, bebezinha que está desde o dia 23 de dezembro na UTI neonatal do Hospital El Kadri, em Campo Grande, depois de nascer de 24 semanas. O parto prematuro aconteceu, possivelmente, por conta da covid que a mãe, Samara Freitas Aureliano, de 20 anos, teve logo no início da gestação.

A estudante conversa com o Campo Grande News por telefone, de dentro do hospital, onde chega de manhã e só sai à noite. Marina é o primeiro bebê dela e do marido, Guilherme Mariano de Paula. A estudante que sempre sonhou em ter uma filha esperava um neném, só não exatamente para o momento em que descobriu a gravidez. 'Mas ela sempre foi desejada, sempre esteve nos meus planos e do meu marido', diz.

Samara descobriu a gestação com cinco semanas, depois de fazer o teste em casa, na manhã seguinte ao Dia dos Pais de 2020. Na sequência, fez a ultrassom que confirmou um bebê a caminho. Como ainda estava nos primeiros meses de pandemia, ela acreditava que até o filho nascer, a covid já teria acabado.

Nos primeiros meses, a ansiedade era para sentir logo os chutinhos e descobrir o sexo. Na semana em que a gestante fez o exame morfológico, por volta da 12ª, Samara soube de uma médica que acerta o sexo na grande maioria das vezes. 'Fomos nela e ela deu 98% de chance de ser menino, fizemos o chá revelação e tudo mais', lembrar aos risos.

No entanto, na ultrassom do segundo trimestre, o exame não só mostrou que o bebê era menina como falou que a estudante já estava com 1 centímetro de dilatação. 'A gente brinca que ela deixou a gente descobrir que era menina e já quis nascer. Ela avisou e veio', conta.

Covid – Aí a história volta lá para o início da gestação. Logo no primeiro mês, Samara teve sintomas de covid que se misturaram muito com o que ela sentia da gestação. 'Falta de apetite e tive um dia de febre, mas me falaram que era normal por conta da gravidez, e logo fiquei bem', lembra.

A desconfiança de que poderia ser covid veio quando o marido também começou a se sentir mal. Os dois testaram, Guilherme deu negativo e Samara, positivo. 'Até hoje não sei como peguei. Ficamos 15 dias sem ver ninguém, mas não precisei ser internada', recorda.

O medo começou ali, como a Samara já tinha lido a respeito, a covid poderia provocar aborto espontâneo. 'Mas depois que passou, não imaginaria que isso poderia ajudar a ter parto prematuro', diz.

Tentativas de 'segurar' – De volta à dilatação, que o exame do segundo trimestre apontou, na 22ª semana, Samara foi orientada a ficar em repouso absoluto e assim tentar segurar o nascimento de Marina. 'Porém, na semana seguinte, eu já estava com 3 centímetros, então corremos para fazer a cerclagem [procedimento que costura o colo uterino para evitar o nascimento prematuro do bebê]. Meu médico estranhou, porque geralmente esse problema aparece nos primeiros meses de gestação, e é muito mais fácil fazer a cerclagem quando o bebê é pequeno', explica a mãe.

O procedimento deu certo e Samara teve alta depois de dois dias de observação na enfermaria. A gestante teve alta na manhã do dia 18 de dezembro, uma sexta-feira, mas voltou à noite à maternidade com muita dor. 'Eu fui achando que seria só uma contração de treinamento ou dor pós-procedimento, mas o médico olhou pra mim e falou que eu tinha dilatado 7 centímetros e a cerclagem tinha aberto', descreve.

Com a data provável do parto prevista para o dia 7 de abril, na hora Samara entrou em desespero, porque sabia que se a filha nascesse naquele momento, faltando ainda quatro meses, poderia não sobreviver. 'Chorei muito, e da maternidade fui transferida para o El Kadri, porque na Cândido não tinha vaga de UTI. Lá fiquei mais quatro dias em trabalho de parto, tendo contrações, até que no dia 21 de dezembro, eu estava num nível de infecção muito grande, e a médica decidiu parar os medicamentos que estavam tentando segurar a Marina, porque a infecção poderia se tornar generalizada', lembra.

Nascimento – Marina nasceu, às 2h da manhã do dia 22 de dezembro, uma terça-feira pesando 575g e com 22 centímetros.

Nos primeiros dias, como todo bebê, há perda de peso, e Marina chegou a pesar só 460g, além de ter hemorragias, insuficiência renal, pulmão imaturo e um canal arterial muito grande comparado ao tamanho do coração, diz a mãe. Ela também tinha um probleminha na barriguinha e não aceitava leite.

'Tudo isso logo nos primeiros dias. A gente não sabe se foi pela covid, tem médicos que falam que sim, outros que dizem precisa estudar ainda mais sobre a doença, mas a covid causa parto prematuro, então pode ser que contribuiu', analisa a mãe.

A primeira vez que Samara pode pegar Marina foi no 52ª dia de vida, quando a menininha pesava 700g. 'Ela ficou dois meses intubada, caía a saturação dela muitas vezes, porque o pulmão era muito imaturo. Ali, eu enxerguei meu milagre, porque para ela estar viva naquele dia, mesmo intubada, para mim já era um milagre. Eu não conseguia parar de rir', recorda.

Com 105 dias de vida, finalmente, Marina pode ser amamentada no seio pela mãe, o que é visto como outro milagre. Hoje, com 1.870 kg, 48cm, e prestes a sair da UTI para a enfermaria, a mãe não vê a hora de levar a filha para casa.

Toda vez que olho as fotos dela, com 460g, me pergunto como foi possível ela passar por tudo isso e ficar sem nenhuma sequela? Mas tem muita gente orando por ela, pessoas que eu nem conheço que chegam em mim e falam que estão orando pela Marina'.

O questionamento da mãe é respondido pela fé dela e de tantas outras famílias que fizeram uma corrente pela 'Marina milagre'.

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