Prepotência faz Brasil sofrer imposições contra produção agropecuária

BATANEWS/REDAçãO BRASIL AGRO


Prepotência faz Brasil sofrer imposições contra produção agropecuária

Sean Gladwell GettyImages Foto Forbes

O Brasil está arriscando muito por pouco. O país, desde queelevou sua participação no fornecimento mundial de alimentos, passou a ser contestado. Muitas vezes por falhas nos meios de produção, mas outras apenas por questão comercial, uma vez que o país aumentou a pressão sobre os concorrentes.

Um dos principais erros, porém, foi o de sempre ignorar as contestações, mesmo quando o país necessitava de corrigir eventuais defeitos.

A prepotência e a falta de diálogo com o 'inimigo' fazem agora o país sofrer imposições de fora. E o argumento de que eles vão ter de comer em nossas mãos não funciona mais.

Todo processo produtivo tem suas falhas e irregularidades. O Brasil não está livre disso, assim como os outros países. Mas é necessário reconhecer os erros e evitar os riscos.

O reconhecimento e a busca de correções não teriam deixado o país tão vulnerável e na mira externa como está agora. O país todo sabe quehá mineração ilegal, inclusive em terras indígenas, que há exploração ilegal de madeira e que há ocupação ilegal de terra por atividade agropecuária.

Essa ilegalidade é pouca em relação a toda a atividade do campo, mas deve ser reconhecida e combatida. Um governo fraco e beligerante tornou o problema ainda maior para o país.

O que até então era apenas uma luta contra o ilegal por parte dos estrangeiros, agora virou uma batalha também contra o legal, uma vez que todo desmatamento que impulsiona a atividade agropecuáriadeverá ser considerado ilegal pela União Europeia, contrariando, inclusive, a legislação do Código Florestal brasileiro.

Essa posição de batalha prometida pelos europeus afeta exatamente as principais fontes de receitas externas do Brasil com o agronegócio. As exportações do complexo soja devem somar US$ 47 bilhões (R$ 260,7 bilhões) neste ano, e a União Europeia é responsável por 15% desse valor.

As vendas externas de café para os 27 países desse grupo de países atingiu US$ 2,6 bilhões (R$ 14,4 bilhões) no ano passado, e a das carnes, US$ 613 milhões (R$ 3,4 bilhões).

Se ao invés de apenas afrontar, o país tivesse sentado à mesa e colocado seus pontos positivos e a intenção de correção os erros, o cenário não seria o de hoje.

A relação comercial mundial mudou e outros componentes entraram nessa negociação, principalmente o de sustentabilidade. É uma exigência do consumidor, que deve ser levada em consideração pelo fornecedor.

Se a União Europeia levar adiante essas novas exigências nas importações, o produtor será o maior prejudicado. O processo de seleção de produtos de área de risco vai exigir custos, que serão repassados para o setor produtivo.

As irregularidades de poucos, para as quais muitos fecham os olhos, será mais um fator de custos para o setor agropecuário.

O produtor brasileiro poderá ser ameaçado não só pelas amarras que serão colocadas nas exportações, mas também por dificuldades na compra de insumos.

Essa ação de governos nas compras de produtos de países que ferem regras de sustentabilidade pode virar pressão também sobre empresas localizadas em seus países, dificultando as importações brasileiras de fertilizantes, agroquímicos e tecnologias externas, setores dos quais o país ainda é bastante dependente.

Além disso, os investimentos externos hoje exigem asustentabilidade social, ambiental e de governança. Com essa imagem deteriorada que o Brasil tem, eles vão ficar cada vez mais distantes.

Faltam interlocutores nessas discussões, o que torna o Brasil cada vez mais distante de negociações com o mercado externo.

O agronegócio, que deverá trazer para o país US$ 115 bilhões (R$ 637,8 bilhões) de receitas neste ano, já atinge perto de US$ 1 trilhão (R$ 5,5 trilhões) em dez anos. Sem ele, o país estaria em uma situação econômica muita mais adversa do que a atual.

A Europa não está só nessa batalha contra o Brasil. Outros importadores de peso também vão começar a olhar mais para essas questões internas brasileiras.

Está ficando difícil o controle dessas chamadas áreas de risco. As atividades ilícitas geram cada vez mais recursos e se enraízam de uma maneira que dificilmente serão combatidas no futuro (Folha de S.Paulo, 19/11/21)