MT terá safra de bons preços, mas com margens apertadas devido custos

BATANEWS/REDAçãO


Legenda: Colheita de soja em Mato Grosso - Secom

Os preços médios da soja, do milho e do algodão vão ter uma boa evolução nas safras 2021/22 e 2022/23 emMato Grosso. Sobem de 24% a 36%.

Poderia ser uma boa notícia para os produtores, que já obtiveram bons rendimentos nas safras anteriores. Essas safras que estão por ocorrer, no entanto, têm um componente que as anteriores não tiveram:uma forte pressão dos custos.

Neste mesmo período de 2021/22 e 2022/23, os custos da soja vão subir 71%; os do milho, 57%; e os do algodão, 65%. Os dados são do Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária).

Esses custos vêm tanto do mercado externo como do interno. O agronegócio, que tem ajudado a economia nacional, poderá ser vítima dos desacertos dela nos próximos anos, devido à evolução da inflação, dos juros, do dólar e dos custos que esses indicadores trazem.

Internamente, o setor, que vem aumentando a busca de capital nas instituições financeiras privadas, vai pagar bem mais pelo dinheiro tomado emprestado, devido àevolução da Selic.

Além disso, a manutenção do dólar em patamar elevado traz novos custos à atividade, principalmente na compra dos insumos, boa parte deles importada. O dólar ajuda, porém, as exportações.

Tomando como base o cenário atual, o Imea estima que o custo operacional total para a produção de um hectare de soja fique em R$ 4.357 nesta safra, mas suba para R$ 6.146 na próxima. O do milho vai de R$ 3.564 para R$ 4.489. Já o algodão passa de R$ 14.854 para R$ 16.576 no período analisado.

Apesar do aumento dos custos, os produtores mato-grossenses elevaram a área de plantio nesta safra 2021/22. A área de soja sobe para 10,9 milhões de hectares, com potencial de produção de 38 milhões de toneladas. Já a de milho deverá somar 6,2 milhões, com um volume a ser colhido de 39,7 milhões de toneladas.

Cleiton Gauer, superintendente do Imea, diz que ainda tem muita coisa para acontecer, mas que o clima está mais favorável neste ano.

Um ponto de atenção é a possibilidade de um janeiro mais chuvoso, período no qual haverá uma concentração de boa parte da colheita de soja.

Quanto às margens dos produtores, ainda há muita coisa em aberto, segundo o superintende do Imea. Até o período 2020/21, o crescimento foi constante, mas a partir de agora pesam os fatores custo e clima. Na avaliação dele, é preciso aguardar para ver como se consolida a safra.

O financiamento das lavouras passa a ser também uma preocupação para os produtores. O volume de dinheiro do governo é pequeno e o perfil do produtor de Mato Grosso é diferenciado.

Neste ano, a taxa pública de juro estava próxima da do privado, mas descola a partir de agora, segundo Gauer. Além disso, o produtor vai precisar de um volume maior de recursos.

O lado bom, segundo o superintendente, é que a Faria Lima (avenida em São Paulo que concentra boa parte do capital financeiro do país) está olhando mais para a o agronegócio. O sistema financeiro brasileiro está trazendo novas ferramentas de crédito, acrescenta.

As principais bases do fornecimento de crédito para o setor nesta safra são as multinacionais, com 30%, e o sistema financeiro, com 28%. Na safra anterior, a participação das multinacionais era de 35%, e a do sistema financeiro, de 24%.

As revendas, que chegaram a participar com 32% do total de crédito cedido ao setor e 2023/14, agora estão com 15%. O produtor também participou mais com dinheiro próprio nesta safra, aumentando sua participação para 19% (Folha de S.Paulo, 15/12/21)