Entenda a relação da guerra na Ucrânia com a crise entre Estados Unidos e China

Nancy Pelosi visitou Taiwan apesar da 'ameaça de guerra' chinesa; Rússia apoia unilateralmente a política do país sobre a ilha

BATANEWS/R7 / INTERNACIONAL | MARIA CUNHA*, DO R7


O presidente da China, Xi Jinping, e o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden - Paul J. RICHARDS / AFP

A presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, visitou Taiwan na última terça-feira (2), apesar da 'ameaça de guerra' chinesa. A China havia advertido que o governo americano 'pagaria o preço' se a autoridade visitasse a ilha.

As relações entre a China e Taiwan são difíceis desde a sua separação, em 1949, mas Pequim reivindica a ilha como parte de seu território.

A situação pode ser comparada com o que ocorre na Ucrânia, que foi invadida pela Rússia, em 24 de fevereiro, dias após Vladimir Putin reconhecer a independência de duas áreas separatistas pró-Rússia do território ucraniano, autodenominadas República Popular de Donetsk e República Popular de Luhansk.

Na opinião do economista Igor Lucena, doutor em relações internacionais pela Universidade de Lisboa, mais do que apontar semelhanças, é preciso entender que há uma clara relação entre a tensão política entre as potências mundias com a guerra na Ucrânia.

'A partir do momento que a visita foi oficializada, que o governo de Pequim foi contra, mostrou sua indignação, e a Rússia apoiou a China, isso mostra mais uma vez um alinhamento das decisões de Pequim e de Moscou', explica o especialista.

Pequim foi contra as sanções impostas em relação à Rússia e se absteve de condenar, do ponto de vista político, a invasão à Ucrânia. Em razão disso, Moscou retribui apoiando unilateralmente a política da China sobre Taiwan.

'Há uma clara visão de que o bloco sino-russo estará unido, de todas as formas, nas defesa dos interesses dos dois países', pontua Lucena. 

Do ponto de vista histórico, o economista lembra que tanto a Rússia quanto a Ucrânia eram uma só nação, mas com movimentos, sentimentos e sistemas políticos diferentes. A União Soviética tinha essas nações e outras regiões que se dividiram ao longo da história quando ocorreu a queda do Estado socialista.

Por outro lado, a China Continental e Taiwan só estiveram unidos durante o período do Império Chinês. Em 1949, quando ocorre uma guerra civil, os comunistas, liderados por Mao Tsé-tung, assumem o poder do país e os nacionalistas, liderados por Chiang Kai-shek, fogem para Taiwan.

'Do ponto de vista da República Popular da China, não há um paralelo de união, a República Popular da China nunca teve a ilha de Taiwan como uma parte do seu território. Agora, quando a gente faz todo um histórico relacionado ao Império Chinês, sim, eles foram juntos durante um período. Então, de fato, existem paralelos que são similares do ponto de vista histórico', relata Lucena. 

*Estagiária do R7, sob supervisão de Pablo Marques

As relações entre a China e Taiwan são difíceis desde a sua separação, em 1949. Entenda os motivos da situação atual entre o governo chinês e a ilha no Pacífico, que foi amplificada com a visita da presidente da Câmara dos Representantes americana, Nancy Pelosi, a Taipei

Dado Ruvic/Reuters - 28/04/2022

A separação Em 1º de outubro de 1949, o líder comunista Mao Tsé-tung proclamou a fundação da República Popular da China, após derrotar os nacionalistas na guerra civil que eclodiu após a 2ª Guerra Mundial. As tropas nacionalistas do Kuomintang, lideradas por Chiang Kai-shek, recuaram para Taiwan e formaram um governo. Os nacionalistas proibiram qualquer relação com a China continental. Pouco depois aconteceu a primeira de uma série de tentativas do Exército Popular de Libertação da China de tomar as ilhotas de Quemoy e Matsu. Em 1950, Taiwan tornou-se um aliado dos Estados Unidos, então em guerra contra a China na Coreia

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Representação na ONU Em 5 de outubro de 1971, a China substituiu Taiwan na ONU. Em 1979, os Estados Unidos romperam relações diplomáticas com Taiwan e reconheceram Pequim. Quase toda a comunidade internacional adotou a política de 'uma só China', que exclui as relações diplomáticas com o governo nacionalista. Nesse cenário, Washington continuou sendo o principal aliado de Taiwan e seu principal fornecedor de equipamentos militares

John Angelillo/Reutres - 20.09.2021

Lei antissecessão Em 1987, Taiwan autorizou viagens à China continental para reuniões familiares, abrindo assim o caminho para trocas comerciais. Em 1991, Taipei aboliu as disposições que estabeleciam o estado de guerra com a China, mas, em 1995, a China cancelou as negociações de normalização em protesto contra a viagem do presidente taiwanês Lee Teng-hui aos Estados Unidos. No ano seguinte, a China lançou mísseis perto da costa taiwanesa, pouco antes da primeira eleição presidencial por sufrágio universal em Taiwan. Em 14 de março de 2005, a China adotou uma lei antissecessão que previa meios 'não pacíficos' caso Taiwan declarasse independência

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Diálogo inédito Em 2008, China e Taiwan retomaram o diálogo suspenso em 1995. Em 2010, eles assinaram um acordo de cooperação econômica e, quatro anos depois, estabeleceram um diálogo intergovernamental. Em 7 de novembro de 2015, os presidentes chinês e taiwanês se reuniram em Singapura, algo inédito desde a separação

REUTERS/Joseph Nair/Pool

Apoio dos EUA Em 2016, Tsai Ing-wen, que emergiu de um partido pró-independência, tornou-se presidente de Taiwan. Durante o mandato de Donald Trump, os Estados Unidos autorizaram uma grande venda de armas e adotaram uma lei que fortalece suas relações com Taiwan

Gaelen Morse/Reuters- 23.04.2022

Taiwan é 'um país'  Em 2019, o presidente da China, Xi Jinping, afirmou que desistiria de recuperar Taiwan e alertou Washington para o risco de 'brincar com fogo' após uma nova venda de armas à ilha. Em janeiro de 2020, Tsai Ing-wen é reeleita e afirmou que Taiwan é 'um país'. Em outubro, Xi Jinping pede ao Exército que 'se prepare para a guerra'

BBC BRASIL

Últimos atritos Em 12 de abril de 2021, aeronaves militares chinesas penetraram na Zona de Identificação de Defesa Aérea de Taiwan (Adiz). De janeiro ao início de outubro, mais de 600 aviões chineses foram detectados naquela área. Em 22 de outubro, o presidente dos EUA, Joe Biden, afirmou que seu país estava pronto para defender Taiwan militarmente no caso de um ataque chinês. Dias depois, a China rejeitou uma proposta americana de conceder a Taiwan 'participação significativa' na ONU

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