Varíola dos macacos: Recebi o diagnóstico positivo. Quais cuidados devo ter?

Maioria dos pacientes vai vivenciar um quadro leve, mas precisa ter alguns cuidados para evitar propagação do vírus e também complicações, dizem especialistas

ESTADãO


Rungroj Yongrit/EFE/EPA

A maioria das pessoas com a varíola dos macacos provavelmente vivenciará um quadro leve e poderá ser tratada em casa, conforme o Ministério da Saúde. No entanto, esses pacientes precisam ter alguns cuidados para evitar a propagação do vírus e também complicações do quadro. Isolar-se de familiares e pets, não coçar as erupções cutâneas e evitar o uso de lentes de contato são alguns deles.

Não há um tratamento específico, mas alguns antivirais utilizados para tratar a varíola humana (smallpox) e outras doenças podem ser indicados para pacientes com quadros graves.    

Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), o período de incubação – intervalo entre a infecção e os sintomas – da varíola dos macacos é geralmente de 6 a 13 dias, mas pode variar de 5 a 21 dias. A pessoa não pode transmitir a doença durante essa fase, segundo os Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos Estados Unidos.

Normalmente, a incubação é seguida de um período chamado de prodrômico, quando o paciente apresenta um conjunto precoce de sintomas, como febre, sudorese (suor), dor de cabeça, mialgia (dor muscular) e fadiga. Cerca de 1 a 3 dias após o aparecimento da febre, surgem as erupções cutâneas.

A orientação dos especialistas é que, ao perceber uma erupção cutânea, a pessoa busque teste, em laboratórios privados ou em unidades de saúde públicas. Às vezes, as lesões lembram espinhas e pelos encravados. Conforme o Ministério da Saúde, o Brasil indica apenas testes de biologia molecular para diagnóstico da doença. A análise é feita de amostras das feridas coletadas por swab (bastão).

Caso o resultado seja positivo, a recomendação do Ministério da Saúde é de que o paciente se mantenha em isolamento até o desaparecimento das lesões. A casca da ferida deve ter caído e a reepitelização (“nascimento” de pele “nova”), ocorrido. A principal forma de transmissão da doença no atual surto, por ora, parece ser o contato físico íntimo, pele com pele, com a lesão.  

De acordo com o CDC, os sintomas da doença podem incluir, além das erupções, febre, dor de cabeça, dores musculares e dores nas costas, linfonodos inchados, arrepios, exaustão e manifestações respiratórios (por exemplo, congestão nasal ou tosse). Na maioria dos casos, eles desaparecem por conta própria dentro de 2 a 4 semanas (doença autolimitada).

Segundo o Ministério da Saúde, a maioria dos casos é leve e pode ser tratada em casa. Os especialistas ouvidos pelo Estadão indicam que essas pessoas precisam ser acompanhadas por profissionais de saúde e ter uma série de cuidados.

“O quadro é bastante desagradável. Alguns pacientes têm precisado de internação até pra receber cuidados de suporte. Ela não é, na maioria dos casos, uma doença exatamente branda, mas os dados do surto atual demonstram que, em pacientes com o sistema imune relativamente hígido (saudável), o quadro tende a se desenvolver”, fala o virologista Fernando Spilki.

A OMS indica que o paciente acometido com a doença deve manter hidratação e bom estado nutricional. Além disso, orienta que eles recebam cuidados de saúde mental, para manejo de possíveis novos sintomas de ansiedade e depressão.

Quando tratada em casa, a indicação é de que a pessoa fique isolada de familiares e também de pets, especificamente mamíferos. O afastamento dos animais de estimação é uma precaução. Isso porque qualquer mamífero, conforme o CDC, pode ser infectado pela doença, no entanto, ainda não se sabe se humanos podem infectar animais. Os especialistas temem que a doença encontre um hospedeiro animal fora da África. “Se isso for possível, nós teremos grande dificuldade de controle”, alerta a infectologista Raquel Stucchi, da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

A orientação do Ministério da Saúde é de que o isolamento só seja interrompido quando as feridas sumirem. Em caso de necessidade de sair, o paciente deve cobrir as erupções, com roupas.

A roupa suja desses pacientes não deve ser sacudida. Lençóis, fronhas, toalhas e vestimentas devem ser lavadas separadamente. Materiais como toalhas, talheres e copos não devem ser compartilhados.

Para evitar a propagação do vírus e o espalhamento das feridas alguns cuidados, como não coçar as lesões e não depilar as áreas do corpo cobertas por elas, são necessários. Por isso, a higienização frequente das mãos é recomendada. “Tem que manusear com cuidado e fazer uma boa higiene das mãos, das unhas, enfim, evitar que as lesões possam se espalhar ainda mais”, orienta Spilki.

O uso de lente de contatos também não é recomendado. “Porque você pode estar com a mão contaminada com a secreção, que tem o vírus, e vai contaminar a lente e o olho”, explica Raquel. Isso pode gerar um quadro ocular grave.

Além da infecção ocular, segundo a OMS, broncopneumonia, sepse (reação a uma resposta inflamatória acentuada) e encefalite (inflamação do cérebro) são algumas possíveis complicações secundárias da varíola dos macacos.  

Conforme a OMS, a taxa de letalidade da doença está entre 3% e 6%. Crianças, grávidas e imunodeprimidos têm risco aumentado para os casos graves da doença.

Os pacientes devem receber orientação de seus médicos. Porém, alguns sinais podem indicar um quadro grave e necessidade de internação, como febre persistente e também uma grande quantidade de erupções cutâneas – mais de 250 é considerado, pela OMS, um caso severo, por exemplo.

Não há um tratamento específico para a monkeypox. Grande parte dos pacientes só receberá indicação de uso de medicamentos para tratar os sintomas (febre e dor).

Conforme o Ministério da Saúde, os antivirais tecovirimat (TPOXX), cidofovir (Vistide) e brincidofovir (Tembexa), desenvolvidos para tratar a varíola humana (smallpox) e outras doenças, podem ser considerados. Na segunda-feira, 1º, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, informou que o País receberá o tecovirimat e que, em um primeiro momento, ele será destinado aos casos mais graves.

Raquel conta que o TPOXX é aprovado nos Estados Unidos e na União Europeia, e deve ser administrado a pessoas com manifestações graves ou atípicas da doença. “Não é uma medicação que você vai dar, por exemplo, para todo mundo que teve contato, nem no início de quadro de uma pessoa jovem imunocompetente.” Não há dados sobre o uso do remédio em um contexto de surto da doença.