Polícia Civil tem foto de vítima de assédio no gabinete de ex-prefeito

Justiça autorizou quebra de sigilo da Prefeitura; policiais periciaram gabinetes e levaram computadores durante operação realizada na manhã desta terça

CORREIO DO ESTADO / EDUARDO MIRANDA


Polícia Civil apreendeu dois computadores do gabinete do ex-prefeito Marquinhos Trad, os quais passarão por perícia técnica - GERSON OLIVEIRA

A Polícia Civil tem fotos de uma das vítimas dos crimes contra a dignidade sexual supostamente praticados pelo ex-prefeito de Campo Grande Marquinhos Trad (PSD) no gabinete da prefeitura no período em que ele era prefeito.

A Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) apura a prática de crimes como assédio sexual, estupro, exploração sexual e perseguição em um inquérito em que, além do ex-prefeito, outras três pessoas são investigadas.  

Para ter mais detalhes de como os supostos abusos sexuais ocorriam, na manhã desta terça-feira (9), a juíza da 3ª Vara Criminal de Campo Grande, Eucélia Moreira Cassal, autorizou a busca e apreensão de documentos e dados de computadores no gabinete do chefe do Executivo da Capital.  

Desde que Marquinhos renunciou ao cargo, no início de abril, o gabinete é ocupado pela atual prefeita, Adriane Lopes (Patriota), eleita vice na chapa do ex-prefeito em 2020. Atualmente, Marquinhos Trad é candidato ao governo de Mato Grosso do Sul.  

Na decisão da magistrada, também foi autorizada a quebra de sigilo da Prefeitura Municipal de Campo Grande. O objetivo das equipes da Polícia Civil é ter acesso aos dados de entrada e saída do gabinete municipal nas datas mencionadas pelas vítimas no inquérito.  

Na segunda-feira (8), quando a operação foi autorizada, eram 11 mulheres que se declaravam vítimas do ex-prefeito, mas ontem, conforme apurou o Correio do Estado, o número estava em 15, e uma 16ª suposta vítima já havia procurado o disque-denúncia da Deam.  

Além da apreensão de computadores do gabinete da prefeitura, a perícia criminal também examinou o gabinete do prefeito, a sala acoplada, o banheiro e o plenarinho. Conforme a representação da Polícia Civil à juíza Eucélia Moreira Cassal, estes seriam os locais dos delitos. “Aponta que há fotos de uma das vítimas no local', relatou a magistrada, ao resumir o pedido feito pela Deam.  

Ao deferir a operação policial desencadeada na manhã desta terça-feira, a juíza da 3ª Vara Criminal de Campo Grande entendeu que os requisitos para o deferimento das buscas, da quebra de sigilo e da perícia estavam presentes.  

“Há indícios de que o investigado, utilizando-se de sua posição política, influência e condição econômica, teria abordado mulheres visando benefícios de cunho sexual e em troca vantagens financeiras, tanto em dinheiro quanto em cargos públicos, e em alguns casos de forma intimidadora e com o uso da força física', argumentou a juíza Eucélia Moreira Cassal.  

A juíza, em sua decisão, porém, limitou a ação da perícia, que poderá ser realizada apenas no período dos fatos investigados.  

AÇÃO POLICIAL

A operação da Polícia Civil teve início logo no início da manhã desta terça-feira, pouco depois das 7h. Quando os policiais chegaram, o trabalho no gabinete da prefeita Adriane Lopes foi suspenso.  

Os agentes e delegados da Polícia Civil e os peritos passaram aproximadamente três horas no gabinete da chefe do Executivo e no anexo em busca de provas das acusações feitas pelas supostas vítimas de assédio sexual de Marquinhos Trad.  

PREFEITURA

A Prefeitura Municipal de Campo Grande, em nota, afirmou que a ação policial se aproxima de um “espetáculo' e que a operação causa estranheza.  

“A estranheza está principalmente no fato de que a juíza recomendava outra abordagem, anotada no pedido de busca e apreensão', informa a nota.  

O trecho da decisão da magistrada colado pela prefeitura é o seguinte: “Ressalto que a retirada dos equipamentos eletrônicos da prefeitura municipal deverá ocorrer apenas na hipótese de impossibilidade de extração no próprio local, o que deverá ser especificamente justificado no auto a ser lavrado, tudo visando minimizar percalços à continuidade dos serviços prestados no local'.

A prefeitura ainda informou que defende a apuração urgente dos fatos e que “confia na Justiça'. O município ainda defendeu uma investigação “séria e equilibrada, que não seja usada como arma para beneficiar quem quer que seja'.  

MARQUINHOS

Em nota, as advogadas de defesa de Marquinhos Trad, Andréa Flores e Rejane Alves de Arruda, voltaram a afirmar que as denúncias são uma armação para prejudicar a candidatura do ex-prefeito ao governo do Estado.

Elas classificaram a operação policial como “midiática'.

“A operação desta terça-feira vai favorecer a defesa, pois comprovará que algumas das supostas vítimas nunca estiveram na Prefeitura Municipal de Campo Grande, evidenciando a armação em curso', diz a nota.

A defesa diz ainda que um grupo teria cooptado mulheres para prestarem denúncias falsas de assédio sexual e que há evidências, registradas em cartório, que comprovam a armação.

O ex-prefeito já admitiu ter tido relações sexuais com outras mulheres, mas afirmou que foram consensuais e nega as denúncias. (Colaborou Bianka Macário)