Saúde
O que se sabe sobre a Ômicron, variante descoberta na África do Sul
Nova cepa tem mais mutações do que outras classificadas como preocupantes. OMS aponta risco aumentado de reinfecção
BATANEWS/R7
A África do Sul voltou ao centro das atenções e preocupações mundiais quando o assunto é a evolução da pandemia. Isso porque, há uma semana, cientistas que trabalham no país africano detectaram uma nova variante do SARS-CoV-2, chamada de Ômicron.
Na última sexta-feira, a OMS (Organização Mundial de Saúde) classificou a nova cepa como de preocupação, porque o novo vírus apresenta ao menos 36 mutações proteína spike (parte do vírus responsável pela entrada na célula humana) e dez mutações só no receptor ACE2 (partícula que ajuda a criar esse ponto de entrada). Em comparação, a variante Beta tem três e a Delta, dois.
De acordo com o cientista brasileiro Tulio de Oliveira, diretor do laboratório Krisp, na Faculdade de Medicina Nelson Mandela, da Universidade KwaZulu-Natal, em Durban, na África do Sul, aw mutações da Ômicron causam muitas preocupações.
'Esta nova variante, B.1.1.529 [nome científico], parece se espalhar muito rápido. Em menos de duas semanas ela domina todas as novas infecções, após uma onda da Delta devastadora na África do Sul', disse Oliveira.
A Ômicron têm potencial para se tornar predominante no mundo e superar a Delta, que segundo a OMS é responsável pela grande maioria de infectados com a Covid-19.
Além da África do Sul, já foram registrados casos em outros 12 países - Botswana, Canadá, Bélgica, Itália, Alemanha, Holanda, Reino Unido, Portugal, Dinamarca, República Tcheca, Israel e Austrália - e no território de Hong Kong.
Na África do Sul, os infectados se concentram no centro econômico do país, na província de Gouteng, onde estão as cidades de Joanesburgo e Pretória. Porém, os cientistas acreditam que haja casos em outras regiões.
Ainda não há evidências científicas de que a nova cepa seja mais transmissível. Os números de casos estão em alta, principalmente em algumas regiões da África do Sul, porque os estudos genômicos estão em andamento.
A OMS aponta que não está claro se a infecção com Ômicron causa doença mais grave em comparação com infecções com outras variantes, incluindo Delta. Dados preliminares sugerem que há taxas crescentes de hospitalização na África do Sul, mas isso pode ser pelo crescimento da doençã por lá.
As únicas evidências apontadas pela Organização sugerem que há um risco aumentado de reinfecção com a variante. O que significa que pessoas que já tiveram Covi-19 podem ficar doentes mais fácil com a variante.
Atualmente, não há informações de sintomas associados ao Ômicron sejam diferentes daqueles de outras variantes, de acordo com a OMS.
Porém, a médica Angelique Coetze, presidente da Associação Médica da África do Sul, em entrevista ao jornal The Telegraph afirmou que os sintomas são mais leves e diferentes. De acordo com ela, os pacientes apresentaram cansaço excessivo, dores no corpo e na cabeça. Sem aparecimento de tosse, perda de olfato e paladar.
Mas Angelique ressaltou que as pessoas atendidas por ela eram jovens e serão necessários mais estudos para confirmar as mudanças.
“O que temos de nos preocupar agora é quando as pessoas mais velhas e não vacinadas forem infectadas com a nova variante. Se elas não forem imunizadas veremos muitas pessoas com a forma mais grave da doença', disse ela.
Ainda não está claro para os pesquisadores se o novo vírus é capaz de superar a proteção das vacinas e qual é o poder de reinfectar pessoas que já tiveram Covid-19.
Vale destacar, porém, que a Ômicron foi mais detectada entre os jovens, a faixa etária que tem a menor taxa de vacinação na África do Sul. Somente um em cada quatro sul-africanos entre 18 e 34 anos é vacinado, conforme afirmações de Joe Phaahla, ministro da Saúde do país.
Segundo Tulio de Oliveira, um dos pesquisadores que descobriram a variante Beta, em dezembro de 2020, a cepa pode ser detectada por meio do exame PCR. Com isso, a descoberta dos casos pode ser mais rápida, o que ajuda no controle e no rastreamento de novas infecções.
A Pfizer anunciou na útlima sexta-feira que já realiza testes com a sua vacina e espera ter respostas sobre a eficácia do imunizante em até duas semanas.
Por ora, a OMS apontou que os imunizantes atuais permanecem eficazes contra doenças graves e morte.
Aqui, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) confirmou ontem que teste de um brasileiro vindo da Etiópia, no sábado, deu positivo para Covid-19. O Instituto Adolfo Lutz está fazendo o sequênciamento genômico da amostra e o viajante já está em isolamento.
A agência recomendou que o governo federal imponha medidas restritivas a voos e viajantes vindos de dez países da África: África do Sul, Botsuana, Essuatíni, Lesoto, Namíbi, Zimbábue, Angola, Malawi, Moçambique e Zâmbia.
Para Isabella Ballalai, vice-presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), a indicação da agência brasileira é válida porque, mesmo com os bons índices de vacinação no país, os números não são homogêneos em todas as cidades e a pandemia ainda não chegou ao fim.
'Enquanto o mundo não estiver completamente vacinado, qualquer país, ou seja, todos nós corremos risco. As pessoas precisam entender que estamos em um bom momento no país, mas não podemos esquecer que a pandemia não acabou. Nós temos coberturas vacinais excelentes aqui no Rio, em São Paulo e em outras cidades. Mas há cidades com coberturas não tão altas', explica Isabella.
E complementa: 'Qualquer excesso pode trazer uma nova onda. Se não tivermos um controle da flexibilização e da entrada de estrangeiros no país, obviamente correremos risco'.
O vírus foi descoberto na última terça-feira em amostras coletadas em pacientes nos dias 14, 15 e 16 de novembro. Na avaliação de outros exames, foram encontrados mais 100 casos em Gauteng, província da qual fazem parte Pretória e Joanesburgo.
Cientistas acreditam que a nova variante tenha surgido em uma pessoa HIV positiva infectada com a Covid-19 que não foi tratada, mesma hipótese levantada para o aparecimento da Beta no fim do ano passado. A África do Sul tem 8,2 milhões de pessoas infectadas pelo HIV. É o país com mais infectados no mundo.
Muitas empresas já começam a realizar o retorno gradual do trabalho presencial. O infectologista Rodrigo Mollina, consultor da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), explica que algumas condutas pode ser adotadas para minimizar o risco de transmissão do coronavírus, como realizar refeições rápidas e com distanciamento e preferir ambientes bem ventilados
pixabay
O que é mais seguro: levar marmita e comer em um refeitório ou comer em restaurante? Mollina explica que na hora das refeições é muito importante seguir o distanciamento social. “O mais seguro é que haja o distanciamento, pois é o momento em que as pessoas estarão sem máscara. Não importa se é restaurante ou refeitório, mas é importante que seja uma refeição rápida', diz
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Posso tomar um cafezinho com um colega que não vejo há muito tempo? Assim como no momento das refeições, Mollina lembra que o distanciamento é essencial ao retirar a máscara. “O hábito do cafezinho ocorre, mas é preciso que seja mantido o distanciamento, para que quando as pessoas estiverem sem máscara não haja a transmissão do vírus', afirma
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Mesmo com distanciamento entre as mesas, se o local é fechado e com ar-condicionado, existe o risco de transmissão do coronavírus? Sim. O infectologista explica que o ideal é que o ambiente de trabalho seja um local com ventilação, para que o ar seja sempre renovado. “O local fechado com ar-condicionado pode aumentar as transmissões, sendo muito importante o uso de máscara e o distanciamento nessas situações', diz
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É possível se infectar durante o deslocamento, em transporte público, para o trabalho? Sim. Para minimizar esse risco, o infectologista recomenda o uso de máscara durante o trajeto e a higienização das mãos ao sair do ônibus ou metrô. “O ideal é que se mantenha, durante todo o percurso, a máscara e, após encostar-se nas barras de apoio, se higienizem bem as mãos com álcool em gel. O mesmo serve para objetos que são tocados com muita frequência, como botões de elevador e maçanetas', recomenda Mollina
PRISCILA NOLASCO/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
A máscara N95 pode diminuir o risco de contágio dentro do transporte público? Mollina ressalta que a transmissão da doença dentro do ônibus ou do metrô é possível e que a utilização da N95 pode prover uma proteção extra. “A N95 pode ser utilizada em todas as ocasiões e é mais efetiva que as proteções de tecido. É uma proteção extra, mas não obrigatória'', afirma. O que não pode faltar é o uso de máscara, seja N95, seja de tecido ou cirúrgica
Reprodução/RecordTV Minas
O ideal é que todos no ambiente de trabalho estejam com o esquema vacinal completo? Por quê? Sim. A imunização completa protege o vacinado de desenvolver a forma grave da Covid-19, mas vale lembrar que não impede que ele transmita o vírus. O médico destaca que só 15 dias depois da segunda dose é que a resposta imunológica estará completa. “A eficácia da vacina só é vista 15 dias após a segunda dose do imunizante; antes disso a pessoa não é considerada imunizada', explica
EFE / André Coelho
Como a vacina não impede a transmissão, é possível que o pai pegue o vírus no trabalho e o transmita ao filho não vacinado em casa, por exemplo? “Sim. Qualquer pessoa, vacinada ou não, pode contrair o vírus de forma assintomática', afirma Mollina
Stephane Mahe/Reuters - 14.9.2021
Pode-se usar a mesma máscara N95 todos os dias no trabalho ou é preciso descartá-la após o uso? “A máscara N95 não é de uso diário, ela tem uma validade', explica Mollina, que destaca a importância de conservá-la: “O mais importante é que a proteção esteja bem cuidada, evitando-se amassá-la e deixá-la úmida'. Segundo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o uso da máscara N95 é limitado a cinco vezes *Estagiário do R7 sob supervisão de Deborah Giannini
EFE/EPA/FRIEDEMANN VOGEL
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